quarta-feira, janeiro 04, 2006

Ai, os piratas

E o cinema digital, ajuda ou dificulta a pirataria? Ao que parece, dificulta.

segunda-feira, dezembro 05, 2005

Melhor frase para designar filmes-pipoca

«Filmes de ir cagar ao pinhal».

Infelizmente não fui eu que a criei.

terça-feira, novembro 29, 2005

segunda-feira, novembro 28, 2005

Atentem nesta miúda


Os filmes não são nada de especial, é um facto (salva-se o de Cuarón porque usou o livro apenas como base para a história, em vez de linha condutora para a mesma). Os actores são, fora dos consagrados, medíocres e mesmo irritantes. Os efeitos especiais são banais. A caracterização de personagens só existe a espaços. Etc. Etc. E etc. Mas olhem lá bem para esta miúda. Ou muito me engano ou ainda vai andar a derreter aí muitos corações. Para já fico ansiosamente à espera dos 18 aninhos para lhe ver filmes mais adultos. É que vai ser giro vai...

segunda-feira, novembro 14, 2005

Excesso de nada

Tery Gilliam deu-se a conhecer ao mundo quando se juntou aos Monty Python. Na altura, à falta de alguém que realizasse os filmes do grupo, atirou-se com a tarefa para cima de Gilliam e de Terry Jones. Mais tarde, depois do fim do grupo, Gilliam atirou-se para a realização em nome próprio. Para terminar a introdução, lembra-se um pormenor insignificante - e daí talvez nem tanto - de Gilliam ser o único americano da pandilha.

Isto a propósito de quê? De nada, que é como quem diz, do seu novo filme, The Brothers Grimm. Como sempre em Gilliam, o filme parte de premissas curiosas. A ideia é fazer uma adaptação livre - extremamente livre - de uma parte da vida de Jacob e Willhelm Grimm usando os seus contos como motor da acção - para quem quiser saber de que raio se está a falar, favor vir ler aqui e ficar a saber que histórias como a Branca de Neve ou a Bela Adormecida, antes de serem recriadas por Disney, saíram da pena destes dois caçadores-recolectores de histórias e lendas populares. Qual o problema então? Bom, tudo. As histórias aparecem aos engulhos, em sistema ad-hoc, e sem adicionarem nada de particular ao filme.

Resumo rápido: Jacob e Willhelm - aqui chamados, para simplificar a coisa aos anglófonos e talvez aos actores, de Jake e Will - são desfazedores de maldições. Ou seja, andam de terra em terra à procura de quem lhes pague para enviar de vez para o outro mundo as bruxas, trolls e duendes que ameaçam uma povoaçãozinha. Claro que nada disto existe e eles apenas se aproveitam das lendas locais para encenar tais assombrações e extorquir o dinheiro. São, em suma, uns charlatões. O problema é quando são enviados para lidar com uma maldição bem real que envolve uma rainha-bruxa-má e umas crianças a desaparecer. E é aqui que o filme descamba completamente.

A ideia era mostrar como este episódio teria dado origem às suas histórias. Existem duas crianças, de nome Hansel e Gretel a desaparecer. A bruxa-rainha-má está isolada numa torre e deixa crescer longos cabelos que chegam ao chão. Há um lobo mau numa floresta ainda pior e uma menina com um capuz vermelho que desaparece. A rainha-má-bruxa diz que é a mais bela de todas e vê-se permanentemente ao espelho. No final, um beijo de verdadeiro amor salva o dia. Há sapos a serem lambidos, migalhas de pão para marcar o caminho a serem comidas pelos corvos e sei lá que mais. Pelo meio há também um Matt Damon que não sabe muito bem o que tem de fazer e um Heath Ledger que, dentro da medíocridade geral, nem está muito mal. Há também Lena Headley, presença luminosa mas demasiado mal dirigida - passa de amazona a donzela com demasiada facilidade, apenas porque issos erve os interesses de Gilliam. Há também uma ocupação francesa na Alemanha que pode muito bem ser historicamente real, mas que nada serve para a história a não ser para fornecer uns comic reliefs mal ensaiados e que em nada fazem rir, antes aborrecem de morte. Depois há também um italiano sádico, sanguinário e cobarde que, no fim, se transforma em salvador do filme - e já agora do livro - e que é desempenhado pelo escandinavo Peter Stormare.

Confusão? Pois é, muita. É como na cabeça de Gilliam. É que, sejamos sinceros, depois dos Python, Gilliam ainda fez apenas um - e um só - bom filme: Brazil. Depois disso fez um asco - Twelve Monkeys - e dois filmes que eram salvos pelos actores: Fisher King e Fear and Loathing in Las Vegas. Fez também um filme que pode ser considerado um precursor deste: The Adventures of Baron Munchausen. Em todos estes filmes padeceu do mesmo problema - até em Brazil, mas neste era o início, por isso não cansava e conseguia ser interessante - que é o excesso de ideias e de delírios. Mistura realidade, fantasia, sonhos, desejos e sei lá mais o quê - em Fear and Loathing... até metia trips de droga. Isto seria tudo muito giro, não é muito diferente do que era feito com os Monty Python. Só que... faltam-lhe os Monty Python. Falta-lhe a seriedade de Cleese ou Chapman, a "cola" de Jones, o overacting em underacting - if you know what I mean - de Palin e Idle. Falta-lhe, portanto, estrutura. The Brothers Grimm não foge à regra. Com a agravante de não ter actores - nem sequer personagens - para se suportar. O filme tem de tudo em excesso, sem ter nada de substancial para mostrar.

Conclusão final? Tirem a referência aos irmãos Grimm, a parte com franceses, talvez o italiano, reduzam os heróis a um só com um romance decente com a donzela em apuros, tornem o filme mais preto e branco, portanto, e metam-lhe um realizador de filmes de aventuras. Um tarefeiro competente, portanto. O filme passará a ser digerível, será mais barato e fará dinheiro no box-office de Verão. Assim, tal como está, é um desperdício de tudo. Especialmente do nome que Gilliam ainda vai tendo.

domingo, outubro 16, 2005

Há frases que valem um filme

«My guy in D.C. tells me that we are not dealing with a student here, we're dealing with the Professor. Any time the military has an operation that can't fail, they call this guy in to train the troops, OK? He's the kind of guy that would drink a gallon of gasoline so he could piss in your campfire! You could drop this guy off at the Arctic Circle wearing a pair of bikini underwear, without his toothbrush, and tomorrow afternoon he's going to show up at your pool side with a million dollar smile and fist full of pesos»

Aceitemos, este filme é um monte de merda e a frase um desbobinar de clichés, mas enquadrados no mesmo filme... ficamos com uma pérola cinematográfica pura.

sábado, outubro 15, 2005

Os útimos dias de um fantasma

Com a filmagem de Last Days, Gus van Sant não filmou os últimos dias de Kurt Cobain. A quem tivesse escapado que o nome do cantor, no filme, é Blake, poderá ler no final o aviso de van Sant que o filme apenas se baseou em Kurt Cobain, que o filme é, essencialmente, uma obra de ficção.

Este aviso vem, no entanto, desnecessariamente. O van Sant não filma realmente os ultimos dias de vida de Kurt Cobain ou sequer de Blake. A câmara nunca se aproxima de Blake, à excepção de dois momentos, ambos de perda emocional, em que vemos finalmente a face de Blake de perto. Van Sant coloca a câmara apenas a seguir Blake, num processo de perda e de queda inexorável, em que vai perdendo cada vez mais o contacto com o mundo que o rodeia. Aliás, se o filme começa com um dos passeios de Blake pela floresta, onde parece estar livre e sentir um arremedo de felicidade, à medida que o tempo passa vamos vendo Blake cada vez mais confinado à casa e à estufa, onde se refugia para escrever e estar consigo mesmo.

O filme não tem um argumento real, não tem porque não há onde o ancorar. Van Sant prefere antes semear símbolos pelo filme todo. Aquando da música insrumental que toca, vemos a câmara a afastar-se, muito lentamente, da janela onde vemos Blake a tocar, como que simbolizando um afastamento entre este e o mundo que já não o aceita. Outro aspecto caricato surge com a visita do vendedor das páginas amarelas, durante a qual, na sala onde conversam, é possivel ver um quadro com vários cães a rodear e atacar um veado, talvez simbolizando o cerco que os fãs, amigos, agentes, etc, fazem a Blake, cerco ao qual Blake vai sempre tentando fugir, seja física seja musicalmente. É ainda curioso que os únicos sinais de salvação, os sinos de uma igreja que se ouvem ao longe por três vezes no filme ou a visita dos mormons, são totalmente ignorados por Blake, num tota desinteresse pelo caminho alternativo que a sua vida poderia tomar.

O resultado final é o que se imagina e espera, como que num acto voyeur à espera do clímax. Clímax esse que é absolutamente anti-climático. Não vemos um suicídio, van Sant não especula a esse nível. Os amigos abandonam-no simplesmente quando ele já nada lhes dá. Pouco depois, vemos um fantasma de Blake - se é que se pode falar de um fantasma quando Blake é apenas um espírito ao longo do filme - a abandonar o corpo, como que surpreso pela sua própria morte, e ascende, por uma escada invisível, ao céu, o mesmo céu que apenas é visto indirectamente, por reflexos ou no fundo de alguns planos, como que inacessível pelos meios ordinários.

Palavra para Michael Pitt. Pitt não tem realmente que representar. Não há uma espressividade de Blake para ser trabalhada, não há diálogo para memorizar, não há interacção com actores para complicar. Só que isso não torna a sua tarefa mais simples. Pitt tem de viver, literalmente, a sua personagem. Pitt torna-se Blake, os murmúrios são seus, a escrita também e até a música de Blake é dele. Pitt acabou por viver a vida de Blake e, indirectamente, a de Cobain. Consegue ser patético, ausente, perdido e alheado. Mas é também digno de pena, incontornável e sedutor.

Pitt abraça a persona de Cobain/Blake e dá-nos, finalmente uma imagem para adorar e ler e, talvez, compreender. Apenas van Sant não o deseja: Blake torna-se outra imagem, no final, apenas uma história na televisão e as notas de uma guitarra dedilhada em fuga. Van Sant não quis fazer moral nem interpretar a morte de Cobain. Apenas a tratou pelo lado icónico e isso, agora, será tudo quanto teremos para ver.